GLAUCO DINIZ DUARTE – GE investe US$ 550 milhões em centro de pesquisa
A General Electric (GE) vai investir US$ 550 milhões na criação de um centro de pesquisa no Rio de Janeiro. O Centro de Pesquisas Global, o quinto da GE no mundo, terá investimentos iniciais de US$ 100 milhões e vai desenvolver novas tecnologias que serão aproveitadas na exploração do pré-sal. O projeto deve ser concluído em 2012 e vai empregar 200 engenheiros e pesquisadores. A empresa assinou nesta quarta-feira (10/11) acordo com a Vale para parcerias em energia e deve anunciar nesta quinta-feira (11/11) um acordo com a Petrobras para transferência de tecnologia e inovação.
Localizado na Ilha do Bom Jesus (Ilha do Fundão), o centro vai concentrar tecnologias para as indústrias de óleo e gás, energias renováveis, mineração, transporte ferroviário e aviação. É de lá que vai sair o projeto da caixa preta para o sistema de fechamento de poço em exploração de óleo marítima, que deve ser adotado pela Petrobras e pela OGX, do grupo do empresário Eike Batista. A escolha do local, segundo João Geraldo Ferreira, presidente da GE no Brasil, se deu principalmente pela proximidade com os clientes da empresa.
“Com a criação do centro, nós ficaremos mais perto do nosso objetivo de de nos tornarmos o melhor provedor de soluções para nossos clientes”, afirma João Geraldo Ferreira, presidente da GE no Brasil. Segundo ele, a empresa quer se distanciar do conceito de venda de produtos para assumir o papel de solução integral das necessidades dos clientes. “A ideia é que sejamos o melhor parceiro estratégico no país.”
Nos próximos três anos, a empresa investirá US$ 400 milhões em tecnologia, desenvolvimento de produtos, novas unidades e contratação de funcionários. Dos US$ 550 milhões, US$ 200 milhões serão destinados ao aumento de capacidade e tecnologia para a divisão Óleo e Gás, inclusive com avanços em energia renovável, principalmente em energia eólica. Outros US$ 200 milhões vão para as divisões Healthcare e Aviação, que passarão a produzir inteiramente turbinas para aviões da Embraer na unidade de Contagem (MG). Para fechar a conta, US$ 50 milhões vão para um Centro de Desenvolvimento Profissional e Capacitação. A expectativa é que, com as obras finalizadas, o novo centro de pesquisa contará inicialmente com 200 pesquisadores e engenheiros, podendo chegar a 300 funcionários. No total, a GE deve contratar mil funcionários para todos os projetos de expansão.
“O Brasil é um país que chama atenção por sua força econômica e faz sentido criar um centro de pesquisa global aqui”, afirmou Ferdinando Becalli-Falco, presidente e CEO da GE International. Segundo ele, o país deve continuar crescendo e a empresa prevê novos investimentos no futuro. “Esse apenas um dos muitos passos que vamos dar aqui”.
Petrobras e Vale
O centro de pesquisas vai dividir suas equipes para desenvolvimento de tecnologias e produtos nas áreas de óleo e gás, energia renovável (com ênfase em energia eólica), geração de energia (turbinas movidas a gás e compressores para exploração no pré-sal). “Nossa parceria nos coloca numa posição única no mercado”, diz Claudi Santiago, CEO global da GE para o setor Óleo e Gás. Um exemplo de nova tecnologia que será desenvolvida para a Petrobras é a separação de óleo, gás e areia ainda em mar profundo com um ganho de eficiência enorme em relação ao sistema atual, em que o processo é realizado na plataforma.
Outro projeto que está na fase de desenvolvimento é a criação de uma caixa preta para a válvula de contenção no poço de petróleo. “A Petrobras nos procurou no centro de Nova York para saber se havia uma tecnologia mais segura para exploração em mar profundo”, conta Mark Little, vice-presidente e diretor do Centro de Pesquisas Global. “Depois do que aconteceu no Golfo do México, essa tecnologia pode se tornar vital.” A caixa preta será capaz de gravar todas as informações, como pressão, temperatura e ondas magnéticas e enviar para a plataforma, que faria a monitoração.
Segundo Claudi Santiago, há outros projetos já em desenvolvimento, envolvendo compressão e processamento. “A ideia é que possamos desenvolver todas essas novas tecnologias aqui para que elas possam ser utilizadas em qualquer lugar do mundo.”
Para atender melhor às necessidades da Petrobras, a GE está ampliando sua fábrica em Macaé (RJ), para acomodar a produção de componentes como árvore de natal e cabeça de poço, além da manutenção dessas peças. “Ainda não temos um acordo para venda dessas tecnologias para a Petrobras, mas estamos confiiantes de que serão muito úteis para a empresa.”
Santiago estima que o investimento no setor levará a um faturamento entre 20% e 30% maior nos próximos anos somente no Brasil. Um volume muito acima dos 8% a 10% previstos para o setor em nível mundial, que hoje soma US$ 8,5 bilhões.
A parceria com a Vale envolve pesquisa e desenvolvimento em energia renovável, incluindo reuso de água e eficiência. “A energia renovável é um ponto focal da estratégia da empresa”, diz Rafael Santana, presidente da GE Energy para América Latina. A GE também firmou acordo com a MRS Logística, para a qual vai entregar 115 locomotivas, com opção de produção de mais cem nos próximos cinco anos. Os novos modelos utilizarão dois tipos de combustível (gás natural e diesel), tecnologia muito semelhante aos motores flex para carros. As locomotivas serão usadas pela Vale e MRS no transporte de minérios e produção. “Acredito que nossos negócios no setor vão dobrar nos próximos dois, três anos”, diz Lorenzo Simonelli, presidente da GE Transportes. “Já dobramos nos últimos dois anos e tudo indica que o crescimento pode ser ainda maior.”
Benefícios
O grupo aproveitou o anúncio para assinar sete acordos de intenção. A GE firmou parcerias com a Vale para projetos de armazenamento, geração e distribuição de energia. Outro acordo foi fechado com a MRS Logística para ampliar e modernizar a malha ferroviária brasileira, com soluções inovadoras para escoar a produção nacional. A empresa assinou ainda parcerias com a Universidade Federal do Rio de Janeiro e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas.
A escolha do Rio para localização do centro vem sendo debatida há mais de um ano. A cidade bateu concorrentes fortes como São Paulo, Campinas, São José dos Campos e Belo Horizonte. Para se instalar na capital fluminense, a empresa conseguiu junto ao governo alguns incentivos como redução para 2% de Imposto sobre Serviços (ISS) para pesquisa e desenvolvimento (que já é outorgado a outras empresas) e de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para compra de equipamentos e venda de itens específicos para clientes.
A própria área em que será construído o centro, na Ilha do Fundo, hoje é ocupada pelo Exército. A Prefeitura do Rio finaliza a compra do terreno e vai arrendar o local durante 50 anos, “tempo mais do que suficiente para que a possa GE diluir seu investimento”, segundo o prefeito Eduardo Paes, que participou da cerimônia de assinatura dos acordos. Ele não informou o valor da negociação.